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Plancton re007

Um Argentino no Deserto  |  René Bertholo

Nada: Luz

Um Passeio ao Domingo

Um Argentino no Deserto

África aqui

Praia verde

Amanhã

Os sinos do Ribeiro do Álamo

Os grilos

Dança para um dia de chuva 

A passos rápidos 

Olha 

Chop Suey 

Lembro-me 

Uma voz 

Fado do mar

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Ao lado de Lourdes Castro e Costa Pinheiro, Bertholo fez parte do grupo KWY, que nos anos 50 e 60 manifestou a sua insatisfação  com a arte e a política que se faziam em Portugal. Morreu aos 70 anos.

A expressão era sua: sempre gostou de máquinas complicadas, que construía e expunha, que se estragavam e eram quase impossíveis de restaurar. 

Por vezes, essa máquina era o próprio corpo, que produzia imagens muito semelhantes, mas nunca idênticas, como se de facto esse corpo fosse uma máquina que abdicasse da sua condição humana para trabalhar. Chamava-se René Bertholo, estava doente há muito tempo e morreu na última sexta-feira, aos 70 anos.René Bertholo foi, com Lourdes Castro, Costa Pinheiro e outros, o protagonista de uma aventura sem igual na arte contemporânea portuguesa, que teve por nome KWY. Estas eram as três letras que, nos anos cinquenta e sessenta, não existiam no alfabeto português. E, por essa razão, foram as escolhidas para denominar uma revista, primeiro, e um grupo, mais tarde, que reunia um conjunto de jovens a viver em Paris (França), e que assim manifestavam pacificamente, sem agressividade, a insatisfação com o ambiente e a arte que se fazia em Portugal. 

De Lisboa, Bertholo tinha saído em 1957, acompanhado pela mulher, a pintora Lourdes Castro, e depois de uma curta estada em Munique (Alemanha), instalaram-se em Paris, onde o casal Vieira da Silva e Arpad Szènes os acolheu e aconselhou. Muitos anos depois, Vieira da Silva ainda se referia a Lourdes Castro a e René Bertholo como “les enfants”, “as crianças”.

Em Paris, Bertholo encontrou uma vida artística fervilhante e intensa, a possibilidade de ver tudo o que nunca se tinha mostrado em Portugal (a pop norte-americana, por exemplo), e sobretudo uma série de artistas da sua geração que se reencontravam com a figuração para lhe imprimir um cunho social e político. A “nova figuração”, como se chamava esta corrente, encontrou ecos no próprio estilo e nos objectivos do jovem pintor português, que assim pode crescer e encontrar-se como artista. 

No final da década de 50, René Bertholo não era propriamente um novato no meio das artes. Nasceu em 1935, em Alhandra, frequentou a António Arroio de 1947 a 1951 e a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL) de 1951 a 1957. Expôs na VII Exposição Geral de Artes Plásticas (1953), a convite de Júlio Pomar, e no ano seguinte no I Salão de Arte Abstracta, pela mão de José-Augusto França. Antes de emigrar, fundou, ainda na ESBAL, a revista Ver, e foi um dos animadores da Pórtico, uma das primeiras galerias em Lisboa. 

A KWY viria depois, uma revista de que se publicaram 12 números e que teve direito a exposição retrospectiva no Centro Cultural de Belém há poucos anos, e onde colaboraram, entre outros, Jan Voss, Christo, Escada, João Vieira e Gonçalo Duarte. Entre 1960 e 1961, como tantos outros artistas da sua geração, recebeu uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian; foi também por esta altura que começou a realizar as primeiras obras que recorriam ao espelhamento de cenas imaginárias, no que se pode entender como um trabalho sobre as próprias possibilidades de transmutação da imagem e sobre o corpo entendido como máquina de produzir imagens.

Criou uma máquina de sons. Esse sentido pode também ser atribuído aos primeiros objectos que realiza a partir de 1966: cenários que mudam subtilmente no tempo graças à inclusão de mecanismos eléctricos. São os chamados “modelos reduzidos”, que concentram toda a sua atenção a partir de 1967 e até sensivelmente 1974. Em 1972-73, Bertholo instala-se em Berlim, a convite da Deutscher Akademischer Austauschdienst, onde pesquisa a electrónica aplicada à arte. O resultado destas pesquisas será uma máquina de sons que realiza “deskoncertos de MOSIKA”, que o artista apresentará publicamente a partir de 1995. 

A sua obra tem sido amplamente exposta em Portugal. Teve uma grande retrospectiva no Museu de Serralves, em 2000, e a galeria Fernando Santos, com quem trabalhava regularmente, tem-lhe dedicado várias exposições individuais. Também é possível ver algumas peças suas em espaços públicos: no Hospital do Barreiro, por exemplo, mas sobretudo em Paris, numa grande parede na Rue Dussoubs.

Em 1981 regressou definitivamente a Portugal. Instalou-se no Algarve, onde, com Costa Pinheiro e Manuel Baptista, seus companheiros de geração, mantinha o contacto necessário com o meio artístico. Continuava a pintar, e lamentava a construção desenfreada e os caçadores que, volta e meia, não o deixavam trabalhar ao ar livre. Gostava muito do sossego, e se não fosse pela companheira, Elna, nem sequer à praia ia.

In Público, Luísa Soares de Oliveira, 14 de Junho 2005 

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Original release CD Sirr.ecords / LP re-release Grama 2017

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Ed. Plancton Music 7 de Junho de 2018 

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